
Alegria do pecado às vezes toma conta de mim
E é tão bom não ser divina
E é tão bom não ser divina
Me cobrir de humanidade me fascina
E me aproxima do céu
E eu gosto de estar na terra cada vez mais
Minha boca se abre e espera
Minha boca se abre e espera
O direito ainda que profano
Do mundo ser sempre mais humano
Perfeição demais me agita os instintos
Quem se diz muito perfeito
Na certa encontrou um jeito insosso
Pra não ser de carne e osso, pra não ser carne e osso
Ai, ai...
Mais uma música feita para mim!!!
Certa vez alguém (cristão) me disse que gostava muito do ritmo dessa música, mas que evitava cantá-la pela ideologia presente em sua letra. Hum!!! Refleti! A ideologia da letra tudo a ver comigo!
Bem, para esclarecer melhor, vamos a um diálogo que sucedeu entre eu e meu amigo Jerônimo, certa vez:
- Vamos pra Santa Luzia do Norte hoje, Jerônimo.
- Fazer o quê?
- Ver-me cantando.
- Vai cantar o quê? Música profana?
- Não rapaz. Hoje é um dia santo; cantarei música sacra!
- Você gosta mais do profano ou do sagrado?
- Hum... Ambos me completam!!!
Muita gente me considera um herege por isso ter dito, mas, em verdade, é assim que se dá a vida de todo cristão. O sagrado e o profano nos completam! Sagrados por termos origem e finalidade divinas, ou seja, feitos por e para Ele. E profanos sim! Se não fôssemos profanos seríamos auto-suficientes. Sim, voltemos olhares para a idéia de Adão e Eva. Era preciso que se ligassem ainda mais a Deus e se tornaram profanos. Sendo profanos estamos o tempo inteiro provando do Amor de Deus. Se caímos Ele nos levanta, se nos perdemos Ele nos encontra, se morremos Ele nos ressuscita... É assim que se dá o que chamo de "complexo do filho pródigo": a gente vai, mas termina voltando. Pois é, por mais que haja cristãos que renunciem milhares de coisas para melhor viver em Deus, é inevitável que o nosso lado profano entre em ação e isso está longe de ser condenável, afinal somos "carne e osso" e, como o próprio Cristo diz, "os sãos não necessitam de cura, mas os enfermos". Há, então, maior prova de amor do que o perd
ão, que Deus está disposto a nos dar a cada instante? É, aliás, reconhecendo a nossa insistência profana, que insistimos em nos encontrar com o Divino! Vejamos o que dizem Zélia e Moska ao fim da letra: "quem se diz muito perfeito, na certa encontrou um jeito insosso pra não ser carne e osso". Observemos: quem se diz perfeito é quem se diz são (lembremos do que disse Jesus sobre os enfermos) e acha que não precisa do sagrado porque, provavelmente, já se acha o próprio sagrado, dessa forma tem um jeito de viver insosso (e Jesus disse o quê para os profanos? "Vós sois o sal da terra"). Finalizo evocando a música "milagres", onde Pe. Fábio de Melo canta: "quem faz da santidade uma vaidade possivelmente já esqueceu que muitas prostitutas nos precedem na entrada do Reino dos Céus" (e as prostitutas são profanas ou sagradas?).

Comentários