MPB par todos já!

Quando se lê ou ouve falar em MPB, um ímpeto automático nos leva a relacionar o conceito com música de boa qualidade. Apesar de não ser muito favorável a este maniqueísmo - música boa versus música ruim - sou amante deste tipo de música. Entretanto não nego que as canções que enquadramos com esta sigla, não têm nada a ver com ela.

MPB consiste em Música Popular Brasileira - creio que algumas mentes mais perspicazes já estejam engajando na minha linha de pensamento. Para os mais lentos, vamos por partes.


Música: Arte de usar os sons com intenção estética e expressiva, combinando-os num mesmo todo criativo de ritmo e harmonia.

Popular
: Referente ao povo, a ele pertencente ou dele proveniente. De baixo custo. Que é democrático.

Brasileira: Que é feito, criado ou adotado por brasileiros.


O que me interessa, sobretudo, neste rol de significados é a segunda definição (popular), que me leva a crer que o conceito amplo que temos de MPB é completamente dissonante de suas reais significações. Aliás, mais do que simplesmente implicar com a superficialidade da questão, intento aqui também direcionar uma crítica a este significado e sua relevância social.

Popular, nos significados acima, consiste em referente ao povo, a ele pertencente ou a dele proveniente. Entretanto, não consigo perceber nenhuma dessas características na nossa atual MPB.

Bem sabemos que quando nos referimos ao povo, falamos do povão, das camadas mais desfavorecidas economicamente. Asim, o que é popular é de baixo valor econômico para o proveito dessas camadas. Mas a consagrada MPB se dá desse modo? Não, não se dá! O que contradiz a sigla que esse tipo de música carrega, é justamente isso: "ela não se dá". Ela se dá a poucos! Ela não quer ser inteligível para o pobre com escolaridade baixa, ela não trata de seu cotidiano e das suas lutas. Ela trata do cultivo intelectual de uma elite (é autofágica), de seu cotidiano e de suas coisasinhas. Pior que isso, ela carimba em seus ingressos e seus discos - especificamente em seus valores - a mensagem subliminar: "proibido para pobre". Assim, poso dizer convicto que a música dos desvaforecidos economicamente não é uma preferência, mas uma opção escasseada por artistas e produtores que restringem as suas "boas obras". Dessa forma, quando o pobre consome o funk é porque nem sabe da existência da bossa nova! Já ouviu falar, mas essa não se lhe foi apresentada. Não que o funk seja ruim ou a bossa nova melhor. Ambos representam manifestações culturais inestimáveis. O problema não é o fato de o pobre preferir o funk, o reggae e o brega, mas ser privado da bossa-nova, do samba e do que chamam de MPB. Por isso, não podemos negar. MPB é a música realmente popular, e não restrita!

ABAIXO à predileção cultural, à restrição artística e ao direcionamento classista destas!







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