Desejo Liberdade!


Hoje, quem é mulher provavelmente já perdeu as contas do quanto de “parabéns” já ganhou. Umas mais, outras menos. Já viram e ouviram mensagens, talvez tenham ganhado flores ou outras coisinhas que convencionaram ser do agrado feminino. Que se dê parabéns às mulheres por serem o que são. A vida não é fácil para homens ou mulheres, mas creio que nossas convenções absurdas tornem o fardo bem mais pesado para elas. Mas que não fiquemos apenas nos “parabéns”, pois hoje, sobretudo, vivemos um dia político.
Foi assim, num dial tal como este que, em 1857, os protestos de mulheres por condições dignas de trabalho foram reprimidos com fogo em Nova Iorque. Contemplemos nossa responsabilidade diante de tal fato!
Sejamos otimistas porque vivemos numa geração de mulheres que não aceita mais a condição de não humanas, de inferiores, de frágeis, de incapazes, de meras procriadoras, de objetos sexuais, ou outros atributos cerceadores que alguns homens construíram no decorrer da história e outros fizeram o favor de perenizar. Valores estes que violentaram todas as mulheres e que ─ pasmem! ─ foram aceitos por uma grande maioria delas como verdade.
Sejamos pessimistas também, porque ainda circulam em nosso meio os fantasmas e as sequelas dessas ideologias que são convenientes para quase todos os homens e que continuam ofuscando a visão de quase todas as mulheres. Saiamos de nossas zonas de conforto, acordemos do sonho que nos acomoda, pois para homens e mulheres a liberdade ainda não chegou e, acreditem, somos covardes e a tememos. Preferimos fingir que está tudo bem porque é mais cômodo esperar que alguém faça por nós. E enquanto isso, vamos vivendo como dá.
Hoje é dia de relembrar que não devemos calar as vozes daquelas guerreiras que morreram por um bem coletivo, de dar corpo ao eco dos gritos de indignação e inconformismo que proferiram há quase dois séculos, de ressignificar aquelas atitudes guerreiras, militantes, corajosas e nelas nos inspirarmos e a elas dar continuidade. Cazuza dizia que “o tempo não para”, mas nós andamos paradas e parados no tempo, e iludidas e iludidos pela ideia de que vivemos “novos tempos”, deixamos o tempo que não para, passar, e como ele a oportunidade de fazer nascerem outros “novos tempos” que nos libertem das opressões psíquicas, físicas, simbólicas e sociais que se embrenham nas famílias, nas religiões, nas políticas, nas escolas e faculdades, nas morais e sobretudo em nossas mentes.
Olhemos mais uma vez para as sábias palavras de Simone de Beuauvoir que nos exortava dizendo que “não se nasce mulher, torna-se”. E percebamos que homens e mulheres são categorias apenas. E categorias não passam de meras construções humanas. E as construções humanas que categorizam também hierarquizam. Está aí, então, o que não devemos calar! Somos construções sociais. E o que construímos, pode ser desconstruído, desmoronado, ou mesmo construído de uma forma outra!
Homens, atentem para o que Pierre Bourdieu e Karl Marx alertam: os dominadores também são dominados por sua dominação!
Eis aí nossa missão! Ela é conjunta e é pelo conjunto!
Homens e mulheres se oprimem mutuamente, ora uns mais do que outras e outras mais do que uns, ou uns mais do que outros e outras mais do que umas. O que nos cabe? Opormo-nos às convenções, conhecer a história, sentir-se parte de uma humanidade que almeja a liberdade.
É tempo de luta ainda! E a principal luta está no nosso dia-a-dia, pois a moralidade opressora é tal como um vício. E o remédio mais eficaz ao viciado é, ao acordar-se, negar seu vício e se decidir por ser livre.
Acordemos a partir de agora, então! Acordemos e digamos por hoje não à opressão, à violência, à desigualdade, à injustiça, aos vícios da nossa moral! E continuemos dizendo e optando que queremos ser livres sem esquecer que a liberdade é algo coletivo, que escolher ser livre é libertar também.
Libertemo-nos! Libertemos!
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!”
E a hora da liberdade é esta!
Desejo a todas as mulheres esta preciosidade mais valiosa do que “parabéns”.
Desejo liberdade!
Liberdade a vós!
Liberdade a nós!

Comentários