Qual minoria?


Estava cá com meus botões pensando do sacripanta do Marcos Feliciano. E nessa relação de tê-lo como representante das minorias e ao mesmo tempo da maioria percebi o emaranhado de questões que transitam da maioria para a minoria.
São as minorias a menor parcela da população?
É da maioria o desejo de igualdade com as minorias, ou a maioria é consonante a Feliciano?
Quando falamos em poder da maioria, costumamos nos remeter à ideia de democracia. Saudosamente aludimos aos gregos antigos e à sua atuação na polis, onde discutiam e votavam no que fosse melhor para os rumos do conjunto. Mas logo esquecemos que a democracia grega não era o poder da maioria, até porque só podia discutir, votar e ser votado na ágora, quem fosse HOMEM, NATIVO, ADULTO e LIVRE.
É só contemplar esses critérios e logo perceberemos que dificilmente se trataria da maioria...
Assim, podemos dizer que as origens da democracia estão fundadas no domínio de um grupo restrito!
Mas talvez devamos argumentar que muito se passou desde a Grécia Antiga até as democracias contemporâneas e que o que chamamos de democrático talvez tenha se aperfeiçoado...
E aí nos aparece um Feliciano da vida!
Mas será que esta figura, com suas ideologias tronchas não representaria o pensamento da maioria?
Não é difícil pensar assim, visto que ainda são altos os índices de violência doméstica e a ocultação da mesma pelas vítimas; o racismo velado continua presente em nossos discursos, em nosso encanto ao que é de origem europeia e no nosso repúdio ao que é de origem africana; heterossexuais fora dos padrões vigentes são rotulados como gays e a classe LGBT continua sofrendo violência simbólica, física e psíquica...
Ora, antes que evoquemos mais categorias minoritárias, creio que devemos esboçar um cálculo.
Se até então temos como minorias as vítimas do machismo, do racismo e da homofobia, talvez haja algo de errado em utilizar o termo minoria. Ora, se somarmos as mulheres, os negros, e a classe LGBT estaremos ainda falando de poucos, ou de uma parcela quase que totalitária da população brasileira?
E aquela ideia de democracia aperfeiçoada na contemporaneidade?
Creio que dois impasses se nos colocam: as minorias não são a minoria e a democracia não realiza a vontade da maioria!
Portanto, o pastor (In)Feliciano não defende nem um pouco os valores e a vontade da maioria com sua ideologia homofóbico-racista. Na verdade ele é guardião descarado de uma pequena parcela (MINORIA!) que oprime a quase totalidade da população brasileira, quase totalidade essa que inevitavelmente participa de alguma forma das chamadas minorias e que por manipulação ideológica dessa classe opressora ─ para a qual o projeto de pastor e de político se põe a serviço ─ termina por se achar maioria e a considerar absurda a expansão dos direitos das demais categorias com as quais dividem o mesmo barco!
Aí as mães de família que são espancadas acham absurdo o casamento homoafetivo e a adoção de crianças por esses casais. A classe LGBT, por sua vez, olha com estranheza as cotas para afrodescendentes e estes continuam a achar inofensiva a violência doméstica e talvez cheguem a praticá-la (e que fique claro que essa lógica é MERAMENTE ILUSTRATIVA, para elucidar o conflito entre as minorias)...
Enquanto isso, a verdadeira minoria continua explorando o trabalho; as liberdades jurídica, política e intelectual; o gosto; as crenças... E as minorias colocando as conquistas de seus direitos como prioritários, enquanto que a luta dos outros quase sempre soa como imoral, quando a verdadeira imoralidade está nesse sistema corrompido e opressor ─ que tratamos de reproduzir com maestria!
Acordem MINORIAS! A MAIORIA são VOCÊS!

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