CULPA DO COMUNISMO! (Afinal, o que é isso mesmo?)

Nesta primeira parte da série "culpa do comunismo", vamos buscar compreender o que é socialismo e comunismo com base na elaboração teórica de Marx e Engels e o porquê desses modelos/propostas de organização socioeconômica a partir da sua compreensão do modo de produção capitalista.


As ideias comunistas, elaboradas a partir do século XIX - período histórico em que se consolidam as principais características do capitalismo, bem como suas consequências - consistem na primeira crítica sistemática às ideias liberais e ao próprio capitalismo enquanto modo de produção. O cerne desta crítica está na luta de classes, condicionada pela distribuição injusta e desigual da propriedade privada dos meios de produção. Na linguagem de Marx e Engels e do marxismo, os meios de produção referem-se às condições materiais,em dado período histórico, para a produção de bens necessários à subsistência humana. Por sua vez, os meios de produção variam de acordo com as condições específicas e históricas do modo de produção em que se inserem. Assim, os modos de produção agregam as forças produtivas (instrumentos, infraestrutura, tecnologia, técnicas, conhecimento, força humana etc.) e relações de produção (formas de desenvolvimento das relações de trabalho e de distribuição no processo de produção) e são mutáveis conforme o andamento da história.
Ao fim e ao cabo, teoricamente o comunismo seria uma sociedade isenta das injustiças sociais inerentes ao capitalismo. Seria também a etapa última de um processo inelutável, em que o capitalismo, diante do seu inexorável colapso, daria espaço a esse modelo de sociedade. Na narrativa clássica do marxismo, seja por uma revolução da classe trabalhadora, ou por uma inevitabilidade dada pelas condições socioeconômicas colocadas, o comunismo sucederia o socialismo. Assim, neste segundo, a classe trabalhadora seria a gestora do Estado, instituição responsável pela organização política no modo de produção capitalista e, portanto, servidora dos interesses das classes dominantes - em sua versão contemporânea, os burgueses ou capitalistas. O papel da classe trabalhadora, na etapa socialista, seria socializar a propriedade privada dos meios de produção, o que teria como consequência colocar sob a administração das/os trabalhadoras/es a produção dos bens necessário à subsistência. Isso não implica dizer que ninguém teria mais seu carro ou seu iphone, como muitas/os costumam se lamentar, mas que grandes proprietárias/os de meios de produção seriam gradativamente desapropriadas/os, com a finalidade de diminuir drasticamente a distância entre as classes sociais e, consequentemente, a luta de classes, já que a intenção seria uma equiparação dos sujeitos com relação às suas posses. Porém, não no sentido de que todas/os deveriam possuir as mesmas coisas, mas no sentido de que sem poucos indivíduos sendo possuidores dos grandes meios de produção, não haveria mais poucos com posses para além de suas reais necessidades e nem muitos com posses aquém de suas necessidades básicas. O fim dessa distância entre as classes, também poria fim na exploração dos poucos grandes possuidores sobre os muitos em condições precárias.
Ora, a posse dos meios de produção por poucos não se deu pelo seu esforço e sabedoria. Foram empregados, ao longo da história, meios escusos e ilícitos para tal: o processo de colonização, subjugação de povos, saques, pirataria, privilégios herdados ou concedidos por afinidade de governantes, corrupção etc. A utilização de tais meios ao longo do tempo, permite que determinados grupos se coloquem na posição de dominantes e se valam dos meios de produção que detêm, para dominar os grupos que não foram beneficiados. O que se percebe, então, é a configuração da sociedade de modo a reproduzir tais condicionalidades, com a finalidade de prolongar tal relação.
O comunismo entraria em cena a partir do amadurecimento dessa socialização dos meios de produção. Isso tornaria o Estado desnecessário e levaria ao seu fim. Ressalte-se, porém, que não seria o fim de todo e qualquer tipo de administração pública, mas de um longo processo de reconfiguração que, provavelmente, findaria a participação política da população no modelo representativo e que traria outros modelos de participação mais eficazes e centrados na ampliação e multiplicação dos espaços democráticos.


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