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Mostrando postagens de 2017

Cientistas e "cientistas"

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Desde o advento da Revolução Científica até o século XIX, falar em ciência consistia em falar de conhecimentos produzidos sob rígidos critérios de quantificação e experimentação. Os reflexos disso se sobrepuseram ao surgimento das ciências humanas. Assim, quando nos debruçamos sobre trabalhos de humanas desse período, percebemos a preocupação de demonstrar que a metodologia e a discussão se baseada nos mesmos critérios e mesmo utilizava do mesmo jargão das ciências da natureza. Acontece que à medida em que fomos adentrando no século XX, as ciências humanas foram cada vez mais percebendo as suas especificidades. A "natureza" dos seus objetos (melhor dizendo, dos sujeitos que estuda) são da mesma "natureza" dos sujeitos cognoscentes. E foi assim que as/os cientistas das humanas passaram a se desprender dos padrões das ciências da natureza. Mas essa tarefa de desprendimento e de estabelecimento de novas possibilidades para a produção do saber científico não deixara

ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL

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SOBRE A DISCUSSÃO SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO NO ENCONTRO COM FÁTIMA BERNARDES Acho deveras interessante que discussões do tipo sejam lavadas a veículos de alto alcance, como o referido programa de TV. Dessa maneira, abaixo parafraseio algumas das falas que merecem mais atenção nessas discussões: 1. "PESSOAS TRANS NÃO SE IDENTIFICAM COM SEU GÊNERO BIOLÓGICO" De 1948 a 1990, "homossexualismo" esteve no Cadastro Internacional de Doenças e era enquadrado pela classe médica como desvio e transtorno sexual, devido às explicações acientíficas (por não terem verificabilidade empírica alguma) de que haveria algum problema no desenvolvimento fetal ou algum transtorno adquirido no processo de socialização dos sujeitos que os levariam a "desviar-se" da "normalidade" da heterossexualidade. "Transexualismo" continua figurando no CID como transtorno e será alterado para "disforia" na sua 11ª versão. Mais uma

CAOS

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Eu gosto mesmo é do caos... Gosto de ver até onde uma bagunça pode chegar! Fascina-me o aleatório e o que não se pode controlar. No acaso, encontro sentido para seguir ou para ficar, Na desorientação arranjo caminho para trilhar. Talvez seja meu librianismo, que hostiliza a obrigatoriedade da escolha! Nada quero escolher! Quero é deleitar-me em dúvida, Quero jubilar em erro! Nauseia-me a monotonia da realidade sistemática! Ela se repete incessantemente, cerceia a liberdade com lógica. Não gosto da disciplina, dos prazos, das categorias, nem do acerto. Gosto mesmo de desencontros, de equívocos e de imprecisão... Eu gosto do mundo tal como é: Sem sentido, sem razão, sem prumo e rédea. Eu gosto mesmo é do caos! Gosto do impossível, do milagre, do inexplicável, do incomensurável. De tudo o que não se pode conter, confinar, enquadrar e manter. As metas? Os objetivos? Deles fujo! Quero mesmo o improvável e o infinito, Quero mesmo a ínfima probabilidade. Quero sorte e, por que não, o a

DA LIBERDADE

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Há quem julgue liberdade a potência de tudo querer, ter e fazer. Porém não há liberdade sem um conjunto de coisas dispostas e impositivas. Primeiramente que a liberdade existe inserida em um contexto de condições materiais, como diria Marx. Estas já se encontram prontas ao nascermos. Podemos negá-las a ponto de transformar objetivamente a realidade, mas somente de maneira coletiva e ainda assim limitada às condições que encontramos. A liberdade, sobremaneira livre ou limitada em algum grau é sempre que possível, causa. E causas tendem a produzir efeitos. Dessa maneira, os usos da liberdade não se destacam das suas consequências. Podem mesmo estar filosoficamente em consonância com o "tudo posso, mas nem tudo convém", de São Paulo, que alertava sobre as liberdades que conviriam ser evitadas. Dessa forma, seu usufruto consciente nos leva a adiantar o devir, mas o devir é livre de previsões, pois atrelado a liberdades outras fora da alçada do dito livre. Dispor de lib

How to get away with murder: sutis reflexões sobre crime e justiça

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À primeira vista chamou-me a atenção a professora de direito confiante, séria e extremamente inteligente. Uma mulher como poucas nos ambientes acadêmicos (e como poucas protagonistas): uma mulher negra. A personagem Annalise Keating, interpretada por Viola Davis, não é uma mocinha/heroína típica de filmes, séries, novelas e romances. Ela é uma mulher de carne e osso. É contraditória tal como cada um/a de nós é. Excelente na sua profissão, mas com um lado obscuro que vai se revelando ao longo da trama. Essa não é uma característica exclusiva da protagonista. Xs demais personagens seguem essa mesma lógica. São boas/bons e também são más/maus. E a quebra desse maniqueísmo nos coloca diante de nós. Tendemos a nos considerar boas pessoas, mas não abrimos mão de nossos vícios. E guardamos conosco partes de nosso ser que nos envergonham, que buscamos ocultar a todo custo. A quebra do maniqueísmo se revela também nos casos que Analise e sua equipe (que inclui sua assistente, também ad